sexta-feira, 20 de julho de 2012

A Adoção

Já fazia alguns dias que estávamos todos lá, naquela gaiolinha, eu, a mamãe e meus irmãozinhos. Estava bom, pois tinha água e ração, mas eu ainda gostava de mamar um pouquinho, assim como meus irmãos.

Daí de repente abriram a gaiolinha e ... levaram a mamãe! Berrei logo: não demora, mamãe, que logo logo eu vou querer mamar....

Mas o tempo foi passando, passando e... cadê a mamãe, que não volta?

Pois é. A mamãe não voltou, e aquilo lá ficou uma miadeira só. Miau pra cá, miau prá lá, até que a gente acabou esquecendo...

Passamos vários dias assim, brincando uns com os outros. Aprendi a comer e a me cuidar sem a mamãe.

De quando em quando alguém chegava perto da nossa gaiolinha e dizia um monte de coisinhas incompreensíveis, fazendo biquinho e mexendo com a gente. E a gente sempre pensava que ia sair dali... fazia a maior cara de coitadinho...

Mas tão rápido quanto aparecia alguém, também desaparecia. E nós só ficamos esperando, doidos para sair dali.

Um dia eu acordei com o sol batendo na gaiola e percebi que um dos meus irmãozinhos não estava mais lá. Acho que ele foi levado por alguém.... Daí eu resolvi que eu também queria adotar um dono!!! E que daquele dia não passava...

A loja nem estava aberta ainda, mas lá da gaiola eu vi uma moça encostar na grade e perguntar para os caras que cuidavam da gente se o gatinho amarelo era macho ou fêmea... Pô, não tá vendo que eu sou macho???  Fiquei só olhando, prestando atenção no que ela ia fazer...

Mas ela foi embora e eu voltei a me entreter com os meus irmãozinhos. Gostava muito de fazer luta com eles...

Quando já era de tarde, apareceu um cara enorme, loiro, alto e de olhos azuis. Pelo que percebi de sua entrada na loja, ele faz o maior sucesso com as garotas! Mas nem ligou pra elas. Veio direto na minha direção... e eu nem tive dúvida: era esse dono que eu queria adotar. Corri para a beirada da gaiola e logo estiquei a pata pra ele, que já foi pegando e conversando comigo.

Caprichei na cara de coitadinho e ele pediu pra me pegar no colo... Pronto! Estava feito. Como ele era legal e me agradava!!! Bom, foi nesse dia que eu o adotei, pois ele precisava muito de um gato. Fui logo batizado de Francisco.
Apareceu uma caixa pra eu entrar, um pacote de ração, um saco de areia, potes, banheirinho, etc. E lá fui eu, todo contente, levando o meu dono pra.... casa da tal moça que vi de manhã!!!

Lá tinha dois gatos grandes. Um marrom, meio de raça, acho que de pai siamês, um pouco metido, nem chegou perto de mim. Era meio mal humorado, o Mel.



E outro como eu, da rua mesmo, só que preto e com rabo bem fino, gente boa, que foi logo se aproximando para ver quem estava na caixa e eu tratei logo de acertar o nariz dele... mas só pra fazer amizade... Esse era o Otto.



Me deixaram passear um pouco e voltei para a caixa. Daí percebi que aquela não era minha casa. Fui parar numa casa com bastante jardim em volta e com barulho de mar. Acho que era na praia.

Logo me adaptei, mas isso também não durou mais que dois dias: lá estava eu de novo na caixa, indo pra onde agora? Ah, pra outra casa. Essa era um apartamento com uma sacadinha da qual eu podia ver uma grama bem grande e uma porção de placas de cimento em cima... Ouvi uma vez o dono dizer que aqueles vizinhos não faziam barulho nunca... Por que será?

Tinha que tomar maior cuidado, porque não tinha tela nenhuma, eu podia cair. Tinha alguns gatos lá embaixo, mas eu não podia alcançá-los – e, para falar a verdade, nem queria, preferia ficar lá em cima no meu conforto mesmo. Acabei me adaptando muito bem, mas.....

Putz! Chegou um dia que o dono estava no maior agito!! Chegou com um amigo e começou a carregar tudo que tinha em volta!!!

- Meu sofá!!! Onde vai levar o meu sofá???? Ei!!! Onde vou dormir???

Caramba, em uma hora eu estava sozinho ali, sem mais nenhum lugar pra deitar. Só eu, meus potinhos e minha caixinha de areia. O que deu na cabeça desse dono? Ele é louco? E por que me deixou aqui sozinho e sem nada????

Nem sei quanto tempo se passou. Eu não queria comer, nem dormir, nem usar a caixinha. Só tinha medo que o dono tivesse ido embora e tivesse me deixado lá sozinho... até que... ele voltou!!!!!

E veja só... só para me buscar! Viu como sou importante pra ele? Levou-me para outra casa, onde já estavam todas as coisas que ele carregara com seu amigo. Era um apartamento ainda maior, com uma sacada bem maior. Tinha bastante lugar pra eu correr e brincar. Passei um tempão para conhecer tudo. E a-do-rei!!!

Bom, essa casa é onde eu moro hoje. (Ufa, cheguei a pensar que o dono era nômade...) Estou aqui com o dono que eu adotei, e ele terminou trazendo pra cá também a dona, aquela moça que me viu na loja, que também estava precisando ser adotada. Como eu sou bonzinho, também a adotei.

Estou muito feliz aqui. Eles pensam que são meus donos. Mas na verdade eu é que sou dono deles... E às vezes eles me dão um pouco de trabalho.... Mas isso é assunto pra uma outra hora...




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